A maturidade de IA não depende apenas da adoção de ferramentas, mas também da capacidade de compreender, interpretar e aplicar essa tecnologia de forma estratégica. Por isso, o letramento em IA desenvolve a habilidade de entender conceitos, limitações e possibilidades da inteligência artificial, permitindo decisões mais conscientes e alinhadas à realidade de cada negócio.
Sem esse conhecimento, qualquer iniciativa de IA corre o risco de ser superficial, gerando pouco valor e até impactos negativos na gestão de pessoas e nos resultados organizacionais.
Do ruído à clareza
Nos últimos meses, a inteligência artificial (IA) foi manchete em praticamente todos os canais de mídia. De um lado, discursos apocalípticos anunciando o fim de profissões; de outro, gurus prometendo atalhos milagrosos. Esse excesso de ruído cria uma falsa percepção do que realmente significa aplicar IA nos negócios.
Para gestores de Recursos Humanos e líderes organizacionais, essa desinformação gera insegurança. Afinal, como se preparar para o futuro do trabalho quando cada notícia parece contradizer a anterior?
É aqui que precisamos falar sobre dois conceitos fundamentais: maturidade de IA e letramento em IA. Eles são as chaves para diferenciar empresas que surfam no hype daquelas que realmente se preparam para competir em um mercado em transformação acelerada.
O ruído da IA e seus efeitos nas empresas
A maioria das organizações hoje ainda está presa em uma visão equivocada: enxergam IA apenas como ferramenta ou tecnologia plug & play. Acreditam que basta contratar uma solução de mercado, instalar um software ou comprar acesso a um modelo de linguagem para transformar o negócio.
Essa visão simplista ignora três fatos:
- Dados corporativos estão fragmentados, incompletos e pouco confiáveis.
- Processos de negócio não estão preparados para lidar com dados vivos.
- Equipes ainda não têm clareza nem confiança para usar IA em suas rotinas.
O resultado é previsível: projetos que prometiam grandes ganhos se tornam pilotos isolados, sem escala, e acabam alimentando a frustração e a descrença.
Pessoas > Processos > Tecnologia: a ordem importa
A transformação real só acontece quando entendemos que IA não começa pela tecnologia, mas pelas pessoas.
- Pessoas e Cultura → antes de qualquer investimento, é preciso garantir letramento em IA. Isso significa capacitar colaboradores a entenderem conceitos, limites e possibilidades da tecnologia.
- Processos → depois, é necessário revisar fluxos, eliminar gargalos e preparar a organização para dados vivos, integrados e atualizados.
- Tecnologia → só então a IA faz sentido como acelerador estratégico, aplicada sobre uma base sólida de cultura e processos.
Esse raciocínio é sintetizado no framework DRILL que montamos na dooop: Governança em IA, que norteia nossa atuação:
Desenvolver e Otimizar Oportunidades, Orquestrando Pessoas e Processos.
IA não é um software, é uma jornada.
Maturidade de IA: do improviso à liderança
A maturidade em IA de uma organização pode ser medida pela sua capacidade de transformar dados e tecnologias em resultados sustentáveis.
- Baixa maturidade: uso pontual de ferramentas, sem governança, sem integração e sem métricas claras.
- Média maturidade: alguns processos automatizados, equipes treinadas parcialmente, mas ainda sem estratégia centralizada.
- Alta maturidade: IA integrada ao planejamento estratégico, governança sólida e equipes capacitadas para inovar continuamente.
Sem maturidade, empresas correm risco de desperdiçar tempo e capital em experimentos sem retorno.
Letramento em IA: o novo idioma corporativo
Se no passado dominar o inglês era diferencial competitivo, hoje o equivalente é ter letramento em IA.
Não se trata de transformar todos em programadores, mas de garantir que gestores, líderes e equipes saibam interpretar, dialogar e decidir com base em IA. Um exemplo simples: se boa parte dos gestores ainda têm dificuldade em montar uma tabela dinâmica no Excel, como esperar que estejam prontos para orquestrar modelos de linguagem avançados?
O letramento em IA é o pré-requisito para qualquer iniciativa de transformação digital séria. Sem ele, o medo e a desconfiança continuam bloqueando avanços.
O Futuro do Trabalho: riscos e oportunidades
Estamos em um ponto de inflexão da história. A IA não é apenas mais uma tecnologia. Ela precisa ser encarada como um divisor de águas que vai redefinir sociedades, corporações, times e indivíduos.
Nos próximos semestres:
- Profissões inteiras serão remodeladas. O que hoje é rotina repetitiva será automatizado.
- Novos papéis surgirão. Profissionais de IA aplicada, curadores de dados, gestores de ética e governança digital serão funções críticas.
- O papel do RH se tornará central. Caberá aos líderes de pessoas garantir não apenas recrutamento, mas também reskilling, cultura de aprendizado contínuo e gestão de mudanças.
Quem tratar a IA como apenas “mais uma tecnologia” perderá relevância. Quem a entender como transformação cultural e estratégica ganhará espaço e dominará mercados.

Caminho claro: o framework DRILL
Para sair do ruído e avançar em direção à maturidade, propomos o framework DRILL, uma jornada em cinco etapas:
- Descoberta → criar consciência, políticas básicas e experimentação segura.
- Refinamento → reduzir custos e aprimorar processos com aplicações iniciais.
- Integração → consolidar ganhos, liberar pessoas de tarefas repetitivas.
- Lapidação → escalar modelos proprietários, com controle e proteção de IP.
- Liderança → IA como núcleo de P&D, estratégia e inovação.
Esse roadmap permite que empresas caminhem de forma estruturada, com governança e propósito, evitando os erros mais comuns de projetos improvisados.
O tempo está correndo
Se no início falamos sobre o ruído e a confusão em torno da inteligência artificial, agora o caminho está claro: educação, processos e governança.
O futuro do trabalho não é um evento distante. Ele já começou. Empresas que investirem hoje em maturidade de IA e letramento em IA terão equipes preparadas para inovar, reduzir custos e liderar mercados em um cenário cada vez mais competitivo.
E a pergunta que fica é simples:
Sua empresa será protagonista dessa mudança ou plateia dela?
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AUTOR: Danniel Pozza
Danniel Tesser Pozza é um consultor de negócios especializado em inteligência artificial (IA) e transformação digital. Com mais de 20 anos de experiência, tem trabalhado com empresas de diversos setores, ajudando líderes e equipes a adotarem e integrarem soluções de IA para impulsionar a inovação, melhorar a eficiência e alcançar vantagens competitivas.
Fundador da DOOOP, uma consultoria focada em ajudar empresas a incorporar IA de maneira estratégica, é palestrante convidado em eventos de destaque, e já conduziu treinamentos executivos e workshops sobre IA para diversas empresas de alto nível. Sua experiência prática é complementada por um profundo conhecimento sobre as implicações éticas e estratégicas do uso de IA em negócios, ajudando organizações a navegar por desafios complexos e a explorar oportunidades disruptivas.