RETENÇÃO DE TALENTOS SOB A PERSPECTIVA DA NEUROCIÊNCIA

RETENÇÃO DE TALENTOS SOB A PERSPECTIVA DA NEUROCIÊNCIA

No cenário atual, reter talentos tornou-se um desafio cada vez mais complexo e multifatorial.

A neurociência, porém, pode nos ajudar a compreender melhor essa dinâmica. De um lado, temos fatores externos à empresa, como políticas públicas, mudanças econômicas, avanços tecnológicos, pressões sociais e alterações legais, todos eles moldando um ambiente em constante transformação que afeta diretamente a motivação e a permanência dos colaboradores.

De outro, há fatores internos igualmente poderosos, como o clima organizacional, a qualidade da gestão e a cultura da empresa. Um ambiente de trabalho saudável, que esteja alinhado com as expectativas humanas mais profundas, favorece o engajamento e a lealdade. Compreender ambos os lados, o que está fora e o que está dentro, é essencial para construir estratégias eficazes e sustentáveis de retenção de talentos.

O Viés da Causa Única

Sob a ótica da neurociência e do comportamento organizacional, um ponto de atenção relevante são os vieses cognitivos, padrões mentais automáticos que distorcem nossa percepção da realidade. Um dos mais comuns nesse caso é o viés de causa única, que nos leva a atribuir um problema complexo a uma única origem, ignorando os múltiplos fatores envolvidos.

É o que acontece, por exemplo, quando líderes atribuem a alta taxa de rotatividade e a perda de talentos apenas a fatores externos, como instabilidade econômica ou competição do mercado, acreditando que não há muito o que fazer. Esse tipo de visão limitada tende a reduzir a capacidade de ação, reforça a sensação de impotência, acaba gerando frustrações e impactando na estabilidade dos resultados.

Reconhecer esse viés é o primeiro passo para expandir essa perspectiva. Embora fatores externos sejam realmente relevantes, há muitos aspectos internos, como a qualidade das relações, a clareza das expectativas e o suporte à autonomia, sobre os quais temos controle direto. Assumir a responsabilidade sobre esses elementos é essencial para sair da paralisia e construir soluções com impacto real.

 

Fatores Internos e o Papel da Liderança

 
Entre os fatores internos, acredito que o mais decisivo seja o fortalecimento da liderança intermediária, aquela que está na linha de frente, em contato direto com as equipes. Esses líderes têm a capacidade de criar, no cotidiano, um ambiente que favorece, ou não, a permanência, o engajamento e a alta performance.

A neurociência oferece a esses líderes modelos comportamentais validados e altamente eficazes para construir ambientes de segurança psicológica. Atitudes como coerência entre discurso e prática, disponibilidade, previsibilidade nas decisões e demonstração de confiança ativam no cérebro áreas relacionadas à recompensa e reduzem a percepção de ameaça, especialmente na amígdala, responsável por respostas de luta ou fuga.

Esse tipo de ambiente gera conexão emocional genuína entre líder e equipe, fortalecendo a capacidade do grupo de lidar com o desconforto, com as incertezas e com a pressão. Como resultado, aumenta-se a resiliência, a clareza de propósito e a força de vontade coletiva.

Quando a equipe sabe o que está acontecendo e entende claramente o que precisa ser feito, acontece um fenômeno chamado de sincronização cognitiva, ou seja, os pensamentos se alinham, as ações se coordenam e o engajamento se eleva. Isso estabiliza os comportamentos e melhora os resultados de forma natural e sustentável.

Ao reforçar o senso de pertencimento, oferecer previsibilidade nas rotinas, estimular a autonomia nas decisões, fortalecer os vínculos interpessoais e garantir percepções de justiça, criamos um ambiente onde as pessoas não apenas permanecem, elas escolhem permanecer.

Não se trata de uma solução mágica, mas de uma intervenção profunda e consciente nos fatores que realmente importam para a motivação, a lealdade e o desempenho.

 

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Evidência e Impacto Real

 

Os resultados são expressivos. Segundo estudos conduzidos por Paul Zak, líderes que constroem culturas de confiança podem reduzir em até 74% os níveis de estresse dos colaboradores, aumentam em até 50% a produtividade, além de melhorar significativamente o engajamento e a satisfação.

Dados do Instituto Gallup também reforçam esse impacto: empresas que cultivam lideranças próximas, conectadas com propósito e desafios coerentes e que promovem a participação ativa das equipes podem ter um engajamento até sete vezes maior do que a média. Considerando que o engajamento no Brasil gira em torno de 33 a 34%, esse salto é extremamente relevante e acessível. Não exige grandes investimentos, mas sim mudanças comportamentais.

É nisso que eu acredito. Ao longo da minha jornada, aprendi que reter talentos não é uma tarefa simples, mas é totalmente possível, se encararmos como a consequência de um desenvolvimento contínuo, direcionado pelo líder.

Portanto, a chave está na liderança, especialmente na liderança intermediária, que vive a rotina das equipes e pode gerar transformações reais no clima organizacional.

No fim das contas, com as práticas certas, consistência e um compromisso genuíno com as pessoas, podemos criar ambientes em que os profissionais escolhem permanecer e prosperar.

 

 

Elivagner Sales
Diretor de Operações
AML Consultoria