Reinventar para não faltar – novos paradigmas na atração e retenção de talentos

Reinventar para não faltar – novos paradigmas na atração e retenção de talentos

O mundo do trabalho vive uma transformação sem precedentes. A digitalização acelerada, o avanço da inteligência artificial e a mudança no perfil demográfico impõem um novo desafio às organizações: garantir que seus profissionais sejam produtivos por mais tempo, num cenário onde o conhecimento técnico se torna obsoleto em um ritmo cada vez mais rápido.

Como aponta o Fórum Econômico Mundial, 59% dos trabalhadores precisarão ser requalificados nos próximos anos, sendo que 19% terão que aprender uma nova profissão, porque o que fazem hoje será automatizado ou não existirá mais. Isso muda completamente a lógica de empregabilidade que guiou o século XX.

Se antes o diploma era a senha para o mercado, hoje ele é apenas ponto de partida — e, muitas vezes, nem isso.

Ao longo do tempo, o mercado valorizou a formação acadêmica como principal critério de seleção. No entanto, essa prática está cada vez mais desconectada da realidade. Muitos profissionais com diplomas não apresentam as competências necessárias para atuar de forma produtiva e adaptável. Ao mesmo tempo, talentos com grande potencial são descartados por não cumprirem exigências formais — como uma graduação ou conhecimento de uma ferramenta específica — ainda que possuam as habilidades comportamentais mais demandadas atualmente, como pensamento crítico, colaboração, criatividade e resiliência.

Não é diploma que entrega resultados, mas habilidades conectadas com as necessidades das empresas.

O letramento em inteligência artificial, por exemplo, tende a ser tão essencial quanto saber português ou matemática. E as escolas, no modelo atual, dificilmente conseguirão atender à velocidade com que essa demanda cresce. Isso coloca sobre as empresas a obrigação de investir na formação e requalificação contínua de seus colaboradores.

Mais do que nunca, o crescimento das organizações será pautado pela qualidade — não pela quantidade. Teremos menos pessoas disponíveis no mercado e essas precisarão ter alto nível de produtividade e capacidade de adaptação. Isso exige uma revisão profunda nas estratégias de atração, retenção e desenvolvimento de talentos.

É preciso abandonar a obsessão por currículos impecáveis e priorizar o mapeamento de competências reais. Se valorizamos tanto as soft skills, por que seguimos barrando candidatos por lacunas em hard skills que poderiam ser facilmente desenvolvidos no contexto organizacional?

Empresas que quiserem se manter competitivas precisarão criar programas estruturados de qualificação, baseados em trilhas de aprendizagem personalizadas, com foco em competências do presente e do futuro, criando uma cultura de aprendizado contínuo.

Ao invés de esperar que o sistema educacional forme profissionais “prontos”, organizações visionárias assumirão o protagonismo na formação de seus talentos. Essa é a única forma de garantir relevância e sustentabilidade em um mercado onde a única certeza é a mudança.

O momento exige coragem para romper com modelos ultrapassados e ousadia para investir em pessoas. Mais do que máquinas, são as habilidades humanas — como adaptabilidade, empatia, criatividade — que farão a diferença nos próximos anos. E elas não se ensinam apenas com diplomas, mas com prática, cultura e propósito.

 

Juliano Colombo

Consultor